TARIFAÇO PODE SER O PONTO DE INFLEXÃO DA VIRADA ECONÔMICA DO BRASIL NO MERCADO MUNDIAL
Desde o início de agosto, o Brasil enfrenta uma ofensiva comercial de grandes proporções, em função do tarifaço imposto pelos Estados Unidos, com alíquota de 50% sobre 77,8% das exportações brasileiras (Reuters, 31/07/2025). Anunciado no final de julho pelo presidente Donald Trump, a projeção era de que o tarifaço sobre os produtos brasileiros poderia ter um impacto devastador.
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10/7/20255 min read


TARIFAÇO PODE SER O PONTO DE INFLEXÃO DA VIRADA ECONÔMICA
DO BRASIL NO MERCADO MUNDIAL
Desde o início de agosto, o Brasil enfrenta uma ofensiva comercial de grandes proporções, em função do tarifaço imposto pelos Estados Unidos, com alíquota de 50% sobre 77,8% das exportações brasileiras (Reuters, 31/07/2025). Anunciado no final de julho pelo presidente Donald Trump, a projeção era de que o tarifaço sobre os produtos brasileiros poderia ter um impacto devastador. No entanto, dois meses já se passaram (o decreto foi assinado em 31 de julho de 2025 e entrou em vigor entre 1º e 6 de agosto) e o que se desenhava como tragédia passou a ser visto como uma oportunidade de virada na relação do Brasil com o mercado internacional.
Analistas avaliam que o tarifaço pode representar um ponto de inflexão na trajetória econômica do país, levando o Brasil a assumir uma posição mais autônoma, inovadora e competitiva no mercado mundial.
As mudanças provocadas pela taxação norte-americana abrem novas possibilidades. Um exemplo é a tração da demanda chinesa, já visível em 2025: as exportações de carne brasileira para a China avançaram 19,6% em volume e 48% em valor entre janeiro e agosto, ajudando a compensar parte das perdas no eixo EUA (UkrAgroConsult).
QUEDA NAS EXPORTAÇÕES, INCERTEZAS E INDEFINIÇÕES
Os três últimos meses de 2025 serão de incertezas e redefinições na política comercial brasileira. A medida produziu uma queda imediata de 18,5% nas exportações no primeiro mês de vigência (Agência Pública, 12/09/2025) e, segundo estimativas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), pode reduzir o PIB brasileiro em 0,16% até o final de 2025 (Valor Econômico, 01/09/2025). O Ministério da Fazenda calcula a perda de 65 mil empregos até 2026, concentrada na indústria de base e no agronegócio (Agência Brasil, 09/08/2025).
O decreto ampliou em 40 pontos percentuais as tarifas sobre bens brasileiros e foi justificado como “medida de reciprocidade” dentro de uma política protecionista mais ampla, iniciada em abril, quando os EUA já haviam imposto uma tarifa básica de 10% sobre todas as importações globais (Farmdoc Daily, 08/08/2025).
No caso do Brasil, os principais produtos atingidos foram aço, alumínio, têxteis, máquinas e produtos químicos. Em contrapartida, petróleo bruto, minério de ferro e aeronaves foram isentos, preservando parte relevante das exportações brasileiras de energia e beneficiando empresas como a Embraer (Reuters, 05/08/2025).
O governo brasileiro reagiu classificando o tarifaço como uma “retaliação política e injustificável”, ressaltando que os EUA não têm déficit comercial com o Brasil (Agência Brasil, 07/08/2025). Economistas alertam que, embora apenas 12% das exportações brasileiras tenham como destino os EUA, o efeito é sistêmico, pois atinge cadeias produtivas interligadas e afeta a confiança de investidores (BBC News, 10/08/2025).
A diretora do Instituto Aço Brasil, Cristina Yuan, afirmou que “a exportação de aço e alumínio tornou-se inviável”, com fábricas já avaliando redução de turnos (O Globo, 02/08/2025). A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) declarou que o tarifaço afetará diretamente produtos florestais, carnes, café e suco de laranja, reduzindo margens de rentabilidade no agronegócio (CNN Brasil, 08/08/2025). A exportação de suco de laranja para os EUA caiu 80% em agosto, e a de cachaça praticamente parou (Estadão, 09/09/2025).
CENÁRIOS DIANTE DO TARIFAÇO
Entre os possíveis desdobramentos, o cenário mais pessimista supõe a manutenção prolongada das tarifas e a ampliação para produtos hoje isentos, o que aprofundaria a erosão da capacidade exportadora em carnes, café e têxteis, com efeitos sobre emprego, investimento e PIB (Reuters, 12/09/2025).
Um agravamento das tensões, com retaliações e barreiras mútuas, elevaria a chance de recessão setorial e deterioraria a confiança de investidores (J.P. Morgan, 08/2025).
Num cenário intermediário, o Brasil tende a redirecionar exportações para mercados alternativos — China, Ásia e União Europeia — enquanto amplia acordos comerciais e esforços diplomáticos para mitigar barreiras dos EUA. O governo pode usar crédito e incentivos para setores vulneráveis, e as empresas investir em inovação e agregação de valor para reduzir a competição apenas por preço (Reuters, 05/08/2025).
No cenário positivo, o país consolida presença na Ásia e na África, com novos polos exportadores e produtos de maior valor agregado, enquanto fortalece cadeias de insumos e logística e utiliza sua posição em BRICS e Mercosul para amortecer choques externos por meio de acordos e coordenação (J.P. Morgan Private Bank).
O resultado mais provável combina perdas setoriais no curto prazo — nos segmentos mais expostos ao mercado americano — com ganhos em novos mercados, se houver coordenação pública e privada. O tarifaço funciona como um teste de resiliência: com resposta coerente, diplomacia, política industrial e diversificação, o Brasil pode modernizar a pauta exportadora e reduzir vulnerabilidades.
REORGANIZAÇÃO DE MERCADOS E A FORÇA DA CHINA
Desde o anúncio das tarifas, o Brasil passou a redirecionar fluxos comerciais para a China, principal parceira do país. As exportações brasileiras de carne para o mercado chinês alcançaram 948 mil toneladas entre janeiro e agosto de 2025 (China Global South, 05/10/2025). A CNN Brasil destacou que as vendas de soja também devem atingir recorde histórico, com mais de 70% da produção brasileira destinada à China (CNN Brasil, 12/09/2025).
O governo brasileiro adotou uma série de medidas de mitigação, incluindo linhas de crédito subsidiadas e estímulos fiscais para exportadores afetados (Agência Brasil, 15/08/2025). Além disso, o país formalizou denúncia na Organização Mundial do Comércio (OMC) e iniciou negociações bilaterais com Washington na tentativa de rever o pacote (Reuters, 14/08/2025).
Apesar do impacto, o relatório do J.P. Morgan avalia que o Brasil deve “absorver o choque sem recessão”, mas com “crescimento abaixo do esperado” em 2026 (CNN Brasil, 18/08/2025).
COMPARATIVOS DE EXPORTAÇÃO E IMPACTOS SETORIAIS
Em 2024, o agronegócio brasileiro exportou US$ 164 bilhões, dos quais 7% foram destinados aos EUA (Farmdoc Daily, 08/08/2025). Após o tarifaço, essa participação caiu para menos de 5% em agosto de 2025 (Reuters, 05/09/2025).
Os produtos manufaturados tiveram retração de 15% nas exportações no comparativo anual, segundo a CNI, enquanto o setor de café especial viu as vendas aos EUA despencarem 70% após agosto (Reuters, 01/10/2025). Em sentido oposto, o petróleo e o minério de ferro, isentos das tarifas, mantiveram ritmo de crescimento impulsionado pela demanda asiática (Reuters, 05/08/2025).
A Embraer, também poupada das tarifas, assinou novos contratos com países da Ásia e do Oriente Médio, evitando perdas imediatas (Estadão, 06/09/2025).
O FUTURO: ENTRE PREJUÍZO E OPORTUNIDADE
O tarifaço de Trump revela dois caminhos. No curto prazo, representa perdas para setores dependentes do mercado americano — aço, alumínio, café e têxteis — e pressiona o emprego industrial. Mas, no médio prazo, pode acelerar a diversificação da pauta exportadora brasileira, fortalecer o BRICS e abrir espaço para novas parcerias comerciais.
Segundo a BBC News, “a guerra tarifária impõe ao Brasil o desafio de repensar seu modelo de dependência e fortalecer cadeias de valor próprias”. Economistas defendem uma agenda industrial verde, investimentos em biotecnologia e infraestrutura logística, além de maior integração regional com a América do Sul e a Ásia (Valor Econômico, 04/09/2025).
Fonte: Alexandre Costa | EsquinaDemocratica.com.br
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