Mesmo seguindo ‘roteiro de rebaixado’, Inter se salva no apagar das luzes no Brasileirão

Vitória por 3 a 1 sobre o Bragantino, aliada com outros resultados, manteve o Colorado na primeira divisão

ESPORTENOTÍCIAS

12/9/20255 min read

O Internacional seguiu o roteiro completo de uma equipe que é rebaixada no Campeonato Brasileiro. Três técnicos diferentes, campanha ruim no segundo turno e crises na gestão administrativa. Tudo isso, no entanto, não foi o suficiente para que o time fosse rebaixado.

Com Abel Braga nas últimas duas rodadas, o time conseguiu se salvar ao vencer o Red Bull Bragantino por 3 a 1 — e agora vira a chave para 2026 tentando corrigir todos os erros que fizeram o Colorado chegar à 38ª rodada no Z-4, e com incerteza no comando técnico.

Além de Abel, Roger Machado e Ramón Díaz assumiram o comando do Inter nesta temporada. Roger iniciou a temporada e conquistou o Campeonato Gaúcho, mas tropeços na Libertadores e Brasileirão encurtaram seu período no Beira-Rio. Já o argentino, contratado às pressas para salvar a equipe, caiu a duas rodadas do fim, deixando a responsabilidade para o campeão mundial com o Inter em 2006.

O roteiro do Inter em 2025 seguiu aquele vivido pela equipe em 2016, na primeira e única queda à segunda divisão. Naquele ano, Lisca chegou após demissão de Celso Roth e teve apenas três rodadas para tirar a equipe da zona de rebaixamento. Com uma vitória, um empate e uma derrota, não conseguiu o objetivo esperado.

Já Abel teve destino menos cruel. Depois de perder contra o São Paulo em sua estreia, assumiu a responsabilidade de uma eventual queda mesmo sem depender de suas próprias forças. Com gols de Gabriel Mercado, Alan Patrick, um dos poucos destaques neste ano, e Johan Carbonero, e resultados favoráveis nos confrontos da dupla rebaixada Fortaleza e Ceará, o Inter conseguiu assegurar a permanência.

De campeão gaúcho ao risco de rebaixamento em 2025

O Internacional começou o Campeonato Brasileiro motivado: com Roger Machado, o time voltou a ser campeão gaúcho, interrompendo o domínio do rival Grêmio no Rio Grande do Sul, e fazia boa campanha até aquele momento na Libertadores. Não à toa, era tido como um dos favoritos para o título nacional, que não chega ao Beira-Rio desde 1979.

Não se pensava em rebaixamento. Até porque, o foco do Internacional, durante boa parte da temporada, esteve na Libertadores. Classificado às oitavas de final como primeiro do Grupo F, à frente de Atlético Nacional e Bahia, “deu azar” no sorteio e precisou encarar o Flamengo logo de cara. Apesar de ter jogado bem na ida, no Maracanã, quando foi derrotado por 1 a 0, não conseguiu reverter o placar no Beira-Rio, em duelo que ficou marcado por gafe na administração do clube antes da partida.

Ao soltar o papel laminado antes do apito inicial, o Internacional esfriou a partida e, consequentemente, as suas chances de classificação. Essas tais gafes marcaram a temporada, aliás: já na reta final do Brasileirão, o DJ do estádio tocou “Descer pra BC” antes de confronto com o Santos. Naquele momento, eram os paulistas quem tinham o maior risco de queda.

A eliminação na Libertadores também com que o presidente Alessandro Barcellos abrisse mão de algumas das suas certezas. Uma delas era Roger Machado, demitido após derrota no GreNal em setembro. Em seu lugar, apostou em Ramón e Emiliano Díaz, conhecidos por salvar Vasco e Corinthians do rebaixamento nos últimos anos. Também não surtiu efeito.

Abel Braga, como última aposta da diretoria, tinha como objetivo mudar os ânimos da equipe. Na apresentação, chegou de forma negativa, ao ser homofóbico ao criticar a camisa rosa do Internacional. Na estreia, derrota por 3 a 0 diante do São Paulo, na Vila Belmiro, e que afundou a equipe na zona de rebaixamento, a uma rodada do fim.

— Eu pensei que ia fazer mais, nesse jogo não consegui. Se o Inter cair, está caindo com o Abel. Não importa, tenho de assumir. Não esperava essa situação. Esperava que eu poderia contribuir mais”, afirmou, em entrevista coletiva após a partida na Vila Belmiro, em Santos.

O Inter teve lampejos no Campeonato Brasileiro. A vitória sobre o Botafogo, em outubro, dava indícios de que a equipe poderia escapar do rebaixamento. Mas ao longo do segundo turno, se viu afundado na parte debaixo da tabela. Nem Alan Patrick, destaque em 2023 e 2024, conseguiu fazer o time voar neste ano — mesmo com seus melhores números no Brasileirão, com 11 gols e seis assistências.

Defensivamente, o Inter mostrou números de uma equipe rebaixada, principalmente nas rodadas finais. Goleada diante do Vasco, por 5 a 1, e derrota por 3 a 0 contra o São Paulo colocaram de vez a equipe no Z-4, com a terceira pior defesa da competição até aquele momento (58 gols sofridos). Sergio Rochet, Vitão e Gabriel Mercado, entre outros nomes, não conseguiram repetir a solidez no setor, que garantiu sucesso à equipe nas últimas temporadas.

O roteiro do Inter em 2025 seguiu aquele vivido pela equipe em 2016, na primeira e única queda à segunda divisão. Naquele ano, Lisca chegou após demissão de Celso Roth e teve apenas três rodadas para tirar a equipe da zona de rebaixamento. Com uma vitória, um empate e uma derrota, não conseguiu o objetivo esperado.

A reação do Inter na rodada final ainda contou com um “sobe-desce” na tabela de classificação, com os resultados de Fortaleza, Ceará e Vitória ao longo da tarde de domingo. Mesmo com a permanência, a tendência é que Abel Braga não permaneça no Beira-Rio na próxima temporada, dado que chegou somente para modificar a moral da equipe, sem a ideia de um planejamento a longo prazo.

Depois de quatro anos, Abel Braga também pôde voltar a ser feliz ao final do Campeonato Brasileiro. Em 2021, perdeu o título nacional na última rodada, com o empate por 0 a 0 com o Corinthians. Agora, mais aliviado do que satisfeito, decidirá se retorna à aposentadoria depois dos últimos dias imerso na crise do Internacional.

Campanha de rebaixado no segundo turno

Roger Machado deixou o Inter na 12ª posição no primeiro turno, brigando por vaga na Copa Sul-Americana e até Libertadores. Já no segundo turno, com três treinadores diferentes em poucos meses, chegou à última rodada com a segunda pior campanha do Brasileirão, e com apenas 17 pontos somados.

Esse aproveitamento, de 29,8% dos pontos, foi o que permitiu que outros times se recuperassem no Z-4. Foi o caso de Santos e Fortaleza, que ficaram boa parte da competição na zona de rebaixamento, mas respiraram “aliviados” após a 37ª rodada — e que para os cearenses, foi seguido pela derrota e queda contra o Botafogo.

Além disso, a equipe teve campanhas medíocres, como mandante e visitante. No Beira-Rio, somou 30 pontos, com a 14ª posição geral; já fora de casa, apenas 14, e três vitórias — campanha esta que colocou o time no Z-4 antes da rodada final.

Não à toa, a campanha do Inter, somada ao desempenho do Grêmio, faz com que o Rio Grande do Sul não tenha nenhum representante na Libertadores em 2026. Depois de escapar do rebaixamento, terá que se reestruturar sem valores de premiação da competição da Conmebol.

Murillo César Alves-Trivela 

Foto:Edu Andrade/Gazeta Press